MENSAGEM DO SÍNODO DIOCESANO DA IGREJA LUSITANA

O 94º Sínodo da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica esteve reunido na Paróquia do Salvador do Mundo, em Vila Nova de Gaia, entre os dias 1 e 3 de Novembro, tendo por lema a expressão de Jesus aos seus discípulos “Sou eu, não tenham medo!” (S. João, 6:20).
 
A abertura solene do sínodo teve lugar num serviço eucarístico de celebração da Festa de Todos os Santos, durante o qual se procedeu à ordenação de um diácono. Da agenda dos trabalhos constaram, entre outros assuntos, a apreciação de diversos relatórios internos, eleições para os diferentes cargos e, muito em especial, a eleição de um novo bispo diocesano, devido ao facto de D. Fernando Soares ter atingido o limite de idade estabelecido nos cânones da Igreja.
 
Este sínodo decorreu numa época marcada por profundas mudanças e desafios, não só para a vida eclesial como para a vida do País. Neste contexto, ficou claro que a Igreja, enquanto parcela do Corpo de Cristo enraizada nas circunstâncias de cada tempo e lugar, não pode deixar de viver profundamente as realidades particulares que todo o povo português experiencia nos dias de hoje.
 
Com efeito, como registou o Bispo na sua alocução, Portugal é hoje “um país devastado que chora e se indigna”, com “as pessoas estupefactas perante a enormidade das medidas austeras que o governo lhes quer impor, em nome do pagamento de uma dívida que a grande maioria do povo português não entende, e que até agora não foi explicada (…). O povo de Portugal passou a ser para o governo que o elegeu um mero componente de modelos econométricos que se manipulam à luz de ideologias mais ou menos assimiladas”, notando a propósito que está mesmo “a perder-se o espírito humano da governação (…) sem que alguém nos diga para onde nos vai levar tal atitude governativa”.
 
A par desta conjuntura, em que as incertezas minam a confiança e a esperança se ausenta do futuro, vivemos hoje nas sociedades ocidentais uma mutação sociológica que tem levado a uma desvalorização da presença de Deus nas instituições sociais, ao “indiferentismo perante o religioso lado a lado com o recrudescimento de fundamentalismos” ou a um “relativismo desregrado que desfaz a necessidade da aceitação do absoluto”, como expressou D. Fernando.
 
Neste contexto, a Igreja Lusitana, que tem uma tradição matricial de intervenção junto dos mais desfavorecidos ou fragilizados, tem vindo já a desenvolver, dentro das suas possibilidades, trabalho assinalável, quer através das IPSS ligadas à igreja, quer, desde há alguns anos, através de um programa diocesano executado pelas paróquias e pelo departamento de mulheres, o Projecto Esperança, que tem vindo a permitir o apoio directo a muitas centenas de famílias carenciadas, numa perspectiva não meramente assistencial mas antes no propósito de ser sinal do amor de Deus junto dos que sofrem.
 
Reafirmando esta identidade, que nos desafia constantemente a uma intervenção mais eficaz, o bispo diocesano interpelou a Igreja: “temos de levar a cabo uma efectiva atitude solidária na repartição do pouco que possuímos por aqueles que vão literalmente ficar sem nada”, tendo ainda o Sínodo reconhecido que a Igreja tem de ser um sinal claro de esperança e coragem que nos permita caminhar “entre os escolhos de cabeça erguida e determinados” e desta postura dar testemunho inspirador.
 
Reflectindo o tema da reunião sinodal, foi recordado pelos participantes que a Igreja, na sua vulnerabilidade e limitações, é um espaço privilegiado para fazer crescer a fé e a replicar através desses mesmos sinais de esperança e de mudança.
 
“Não tenham medo!”, foi a expressão tranquilizadora de Jesus aos discípulos quando o descortinaram, já noite escura, caminhando sobre as águas; “não tenham medo!” é a afirmação de confiança que a igreja deve transmitir ao mundo; e este foi também o repto que D. Fernando deixou ao povo da Igreja: “Não tenham medo de pedir para ajudar os outros [referindo-se ao Projecto Esperança]; de abrir o vosso coração àqueles que precisam de compreensão e duma palavra amiga; de dizer a verdade, mesmo que tal vos prejudique; de lutar pela justiça e dignidade vossa e dos outros, mesmo que enfrenteis a incompreensão dos homens, porque tudo isto é parte da estrutura do Reino de Deus nas vossas vidas.”
 
Entre as diversas decisões tomadas pelo Sínodo destacou-se a eleição de um novo bispo diocesano, que recaiu sobre o actual vigário-geral, Rev. Dr. Jorge Pina Cabral, um clérigo de larga experiência pastoral, compromisso social e uma visão esclarecida do contexto anglicano internacional. Esta decisão, que marca naturalmente o início de um novo ciclo de liderança, representa um sinal de vitalidade e de reafirmação da identidade e dos princípios fundadores da Igreja Lusitana, assentes, agora como em 1880, data do seu sínodo fundador, na verdade evangélica e na ordem apostólica, defendendo, sempre em espírito de caridade, a unidade naquilo que se tem por certo e a liberdade no incerto, aliás no quadro da ampla tradição anglicana de que a Igreja Lusitana constitui o ramo português.
 
Neste tempo de passagem de testemunho, o sínodo não deixou também de assinalar, naturalmente, o longo e abençoado episcopado de D. Fernando, iniciado em 1980 e que se traduziu por um período de modernização da Igreja, adaptação à sociedade democrática e reafirmação do espírito de profunda vivência litúrgica e sacramental que constitui hoje uma marca essencial da identidade lusitana, garantindo à Igreja, ao mesmo tempo, um reconhecimento internacional largamente superior à sua dimensão na família anglicana. Por tudo isto, o sínodo deu graças a Deus e agradeceu a D. Fernando o profundo empenhamento, generosidade e sentido de total doação com que se entregou à Igreja Lusitana.
 
Em tempo de mudança e de renovação interna, mas também de crise e austeridade, angústia e incerteza na sociedade em que vivemos, a Igreja Lusitana, que nasceu também em contexto de dificuldades, medo e até de perseguição, deve estar na linha da frente como agente motivador da mudança, da confiança e da esperança. Este o voto final do Sínodo e motivo de oração ao Senhor da Vida.
 
Vila Nova de Gaia, 3 de Novembro de 2012

 


Álbum de Fotografias - 94º Sínodo Diocesano da Igreja Lusitana

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