ARCEBISPO DE CANTUÁRIA, JUSTIN WELBY MENSAGEM PÁSCOA 2024
“Quando acabaram de tomar o pequeno-almoço, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?" Ele respondeu-lhe: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo." Jesus disse-lhe: "Apascenta os meus cordeiros." Disse-lhe uma segunda vez: "Simão, filho de João, amas-me?" Ele respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Cuida das minhas ovelhas". Pela terceira vez, perguntou-lhe: "Simão, filho de João, amas-me?" Pedro sentiu-se magoado por lhe ter dito pela terceira vez: "Amas-me?" E disse-lhe: "Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas". (João 21.15-17)
A confusão e a mágoa de Pedro contrastam de forma marcante com a instrução clara de Jesus. Quase na sua última aparição na carne, antes da ascensão, Jesus partilha um momento de amizade íntima e uma refeição com alguns dos seus discípulos junto ao mar da Galileia. Esta ocasião, aparentemente simples, está carregada de simbolismo, como se as coisas básicas e materiais - o peixe, o fogo, o pão - e as ações comuns se tornassem elas próprias parábolas do cuidado que os discípulos devem ter com aqueles que amam e seguem Jesus. Apascenta as minhas ovelhas! Assim ordenou o Mestre, e assim a Igreja, seguindo os seus passos, tentou fazer nos últimos dois milénios, e assim continuará a fazer.
Mas quão complicado, incompleto e insatisfatório se revelou muitas vezes o testemunho pastoral e o cuidado da Igreja! Transformámos, uma e outra vez, o pão em pedras, o vinho em fel amargo, o fogo em tortura e morte. Ao longo dos séculos, virámo-nos uns contra os outros. Temos negligenciado, ignorado e perseguido em nome do amor.
Como parece ter sido amargo este último ano! No coração da Terra Santa, reinaram o massacre e o caos. Estive em Jerusalém em outubro, tentando apoiar as nossas comunidades anglicanas e outras tradições cristãs, e informando-me sobre o sofrimento do povo de Gaza e de outros locais. Estive na Arménia no início de outubro, após o êxodo em massa de famílias arménias do Nagorno-Karabakh. Estive novamente na Ucrânia há apenas dois meses, testemunhando os efeitos desesperados da guerra. Para todas as pessoas envolvidas nestes conflitos, tal como para todos os feridos e traumatizados pela violência, deve parecer que não há fim para tudo isto, que não há ressurreição.
Mas ainda assim, mesmo no meio de tudo isto, há esperança, porque sabemos que Deus está à nossa frente, em Jesus Cristo, o grande pastor das ovelhas. Os cristãos vivem o realismo de saber que as ambições humanas, uma e outra vez, esbarram na areia, mas, ao mesmo tempo, partilham profundamente a visão da esperança que o triunfo de Cristo sobre a morte traz a todos os homens. Por isso, não podemos permitir que o desespero envenene a nossa visão do mundo. Este, é, um tempo de terríveis conflitos e perigos, mas a nossa fé está em Cristo, pacificador e reconciliador.
Nesta Páscoa, oro para que sejam fortalecidos na vossa fé e abençoados no vosso ministério, e para que juntos possamos aprender, no próximo ano, o que significa apascentar as ovelhas de Cristo.
+Justin Cantuar: The Most Reverend and Right Honourable Justin Welby, Archbishop of Canterbury