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«Arrependam-se e mudem de vida, para
que Deus vos perdoe os pecados» (Atos 3,19)

Arrependimento na ação do Espírito Santo
 
Deus criou-nos por Amor e chama-nos a uma relação pessoal, intima e cooperante. A vida de Cristo homem é a expressão plena dessa relação filial a que somos chamados; uma relação vivida em liberdade, em obediência, em verdade e em amor. A fragilidade da nossa condição humana bem como a exigência do contexto social, moral e cultural em que vivemos, leva-nos por vezes, por caminhos que se desviam da vontade de Deus e que não dignificam a pessoa que somos e o projeto de vida que somos chamados a construir. Dá-se a separação entre o nosso agir e pensar e o querer de Deus. Consuma-se o pecado, a separação. Deixamo-nos reger pelos nossos próprios padrões deixando de parte os de Deus.
 
No Seu amor, Deus nunca desiste de nós, e retoma o diálogo e a relação através de uma interpelação em jeito de pergunta: «Meu povo, que mal te fiz eu? Que deixei de fazer por ti? Responde-me!» (liturgia sexta feira Santa). A pergunta divina é o questionar que brota do mais intimo da nossa consciência. É uma pergunta que incomoda no bom sentido de não nos deixar indiferentes e que requer ao mesmo tempo uma resposta e um posicionamento. : «Que mal te fiz eu ? …. Responde-me!». É um interpelar que requer o retomar de um diálogo que não pode ser (nem consegue ser !) abafado por outras vozes e divindades. O arrependimento do pecado cometido, requer sempre a coragem de retomar o diálogo e de responder a Deus. Deus não nos força a responder dado que a reconciliação não pode queimar etapas, não pode ser precipitada, e tem que ser natural e fluir do coração. Muitas vezes a resposta que damos a Deus é feita no silêncio banhado em lágrimas de arrependimento. E o diálogo espiritual, a que somos chamados, rege-se mais «por gemidos que não se podem explicar» (Romanos 8, 26) do que por palavras sonoras e pensamentos bonitos.
 
Deste modo, mais do que um exercicio ou processo espiritual, o arrependimento é o desejo livre e assumido de reatar uma relação e ligação que o pecado fragilizou. O arrependimento expressa também a consciência e o desejo de querer caminhar com Deus e de aceitar a sua orientação e a sua vontade para os nossos planos : «faça-se em mim segundo a tua vontade» (Lucas 1,38). Do arrependimento humano brota sempre o perdão divino, que mais não quer, do que regenerar por amor e abrir caminhos de vida nova. A fidelidade de Deus expressa-se no perdão que sempre nos oferece. Ao reerguer-nos do pecado, Deus convida-nos a segui-lo, reorientando as nossas vidas na ação do Seu Espirito em nós: «Deus que vê mesmo dentro dos próprios, conhece o que o Espírito deseja, porque este pede conforme os desejos de Deus em favor dos que lhe petencem» (Romanos 8, 27).
 
Deus quer-nos adultos e em diálogo e em oração com a Sua pessoa. O temor ao Deus de Israel como condição de remissão das transgressões praticadas dá lugar em Jesus Cristo ao acolhimento de uma graça de amor que apesar da nossa infidelidade sempre se nos propõe através de uma pergunta e interpelação amorosa : «que mal te fiz eu ? … Responde-me». Penetrar neste diálogo e densidade de relação com o próprio Deus na ação e gemidos do Espírito Santo é ouvir o que o Senhor nos quer propor e deixarmo-nos santificar pela sua verdade.
 
Verdadeiramente este é o desafio do Tempo do Pentecostes que estamos a viver. O tempo do Espírito Santo que está em nós e que nos chama «a viver pelo Espírito» (Gálatas 5,16). O tempo que nos chama a ser adultos no assumir do testemunho que somos chamados a dar. Assim, devemos novamente reatar o diálogo com Deus «em Espirito e em Verdade» (João 4,24). Devemos também assumir a nossa fraqueza e acolher a ajuda do Espírito (Romanos 8,26) para seguirmos juntos novos e desafiantes caminhos de vida.
 
Eis o arrependimento em tempo de Pentecostes que nos ajudará a crescer como Suas testemunhas.
 
+ Jorge
26/5/2021

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