A Semana Santa que se nos oferece viver
A Semana Santa ou se quisermos a Semana Maior do calendário litúrgico da Igreja, inicia-se já no próximo domingo de Ramos com a chamada «entrada triunfal» de Jesus em Jerusalém. A santidade que somos chamados a viver e a celebrar não decorre tanto do modo como realizamos as habituais tradições religiosas, com maior ou menor piedade, mas antes no modo, como nos colocamos a jeito para seguir os passos, as entregas e as opções de vida da pessoa de Jesus Cristo.
Toda a vivência da Semana Santa está centrada na pessoa de Jesus Cristo; na sua palavra e nos seus gestos, na sua entrega, nos seus silêncios e na sua paixão e morte. A Semana é Santa não por aquilo que piedosamente procuramos realizar, mas antes no modo, como nos abrimos ao caminho de santidade que Cristo inaugurou e nos continua hoje a proporcionar e a oferecer.
Na perspetiva da fé, a memória que celebramos no decorrer das várias celebrações desta Semana Santa, abre-nos para o presente e para o acolhimento e seguimento de Jesus Cristo no concreto da vida individual e coletiva que somos chamados a assumir. Na Semana Santa o que está em jogo não é o passado, ou o repetir de acontecimentos, mas antes o presente e o futuro, que Cristo inaugurou na sua ressurreição e que Deus continuamente nos oferece.
Com a sua entrada pacifica em Jerusalém montado num jumento, Jesus coloca em causa e desde logo um sistema político e religioso sustentado no poder das armas e na opressão. Verdadeiramente toda a Semana Santa é marcada pelo conflito e pelo confronto, entre Jesus e a sua santidade, e as autoridades religiosas e políticas com a sua ideologia. A santidade de Jesus não busca o conflito, mas sabe assumi-lo para bem da verdade quando tal é necessário. Os acontecimentos na vida de Jesus no decorrer desta semana, não o colocam no Templo, ou na prática celebrativa religiosa da Páscoa de então, mas antes na rua com as pessoas, no jardim com os discípulos e soldados, no tribunal, na casa de Caifás, no palácio do governador e finalmente no Gólgota, pequena elevação situada fora dos muros da cidade. Assim percebemos que, ser-se santo ao jeito de Jesus, é estar absolutamente envolvido e não estar separado ao jeito do Antigo Testamento.
A sua morte expiatória na cruz que atesta a sua santidade, acontece, fora do Templo e fora da cidade. Acontece na periferia e não no centro. Acontece longe de gente dita santa e muito religiosa. Acontece junto dos que sofrem, os crucificados e humilhados. Deste modo, as celebrações que na ação do Espírito Santo, nos disponibilizamos para promover, nesta Semana Santa, não nos podem alhear do mundo, mas antes nos abrir às realidades sofridas do tempo presente. É o sentido da paixão, ou seja, carregar as cruzes do nosso tempo por muito pesadas e exigentes que as mesmas se nos oferecem. Fazê-lo com Cristo e em Cristo. Fazê-lo convidando também outros que não apenas os habituais. Convidar aqueles que sabemos que carregam as suas cruzes e que estão a sofrer e neste sentido caminhar com eles e estar com eles é desde já estar com Cristo.
A santidade pois desta semana que iremos celebrar é antes de mais um caminho que Cristo nos oferece e não tanto um caminho que queremos percorrer ao nosso jeito e de acordo com as nossas tradições. É um caminhar com os outros e não propriamente e tão só um caminhar individual. É um caminhar em Igreja, que mais não é, do que povo de Deus sempre em caminho.
A todos vos desejo, uma Semana Santa abençoada, que vos faça crescer em Cristo e por Cristo, vivida e celebrada no contexto comunitário e que vos aproxime de todos aqueles e aquelas que estão a carregar as cruzes da sua paixão.
Amém.
+ Jorge Pina Cabral