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Homilia na Eucaristia de abertura do 99.º Sínodo Diocesano
«Pedras Vivas chamadas a uma Esperança Viva»


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Reunimo-nos hoje aqui, e usando a metáfora de Pedro há pouco apresentada na sua Carta, enquanto «pedras vivas» de um edifício espiritual que é a Igreja e cujo fundamento e único alicerce e sustento é Jesus Cristo. Ser «pedra viva» segundo Pedro requer a fé pessoal em Jesus Cristo e a disponibilidade para fazer parte com outros, de uma realidade maior que a todos nos congrega e que é a Igreja enquanto Corpo de Cristo. Dado que nenhuma pedra se sustenta por si mesma dependemos uns dos outros e todos dependemos e somos sustentados por Jesus Cristo.

Pedro na sua carta refere que cada cristão entra «como pedra viva, na construção de um templo espiritual» (I Pedro 2,5). Ou seja, cada um de nós, neste edifício espiritual que é a Igreja, é uma pedra essencial, consagrada a Deus. Cada pessoa aqui reunida é única e insubstituível perante o Senhor e concorre para a grandeza, testemunho e missão da Igreja que somos. Somos irmãos e irmãs em Cristo, unidos por uma só Fé, um só Senhor e um só Batismo. Mais importante do que saber o estatuto ou a representatividade que assiste a cada membro do Sínodo é percebermo-nos na nossa igualdade e dignidade radical que deriva da nossa pertença comum a Jesus Cristo. No Sínodo Diocesano, cada pessoa e cada voz é importante, é única e insubstituível. Não deve existir distinção entre clérigos e leigos e todos se devem sentir chamados a dar e a receber uns dos outros. Cada «pedra viva» aqui reunida possui dons, sonhos e visões que são necessárias para o todo que é a Igreja. Ninguém se deve, pois, abster de participar e dar o seu contributo para o trabalho e vivência sinodal.

Na sua primeira carta, que serve de referência ao tema Sinodal e que é: «A Igreja de Deus para o mundo de Deus», Pedro ajuda-nos a compreender que a Igreja, mais do que uma Instituição terrena, com o seu poder e os seus problemas próprios, a Igreja é uma realidade espiritual chamada a herdar o chamamento de Deus feito outrora ao povo de Israel e agora e em Jesus Cristo destinada a ser «gente escolhida, um povo santo de sacerdotes ao serviço do Reino, povo que pertence a Deus» (I Pedro 2,9). A Igreja que somos, percebe-se, pois, à luz da História da Salvação e do chamamento feito por Deus a Israel e mais tarde a toda a humanidade na pessoa de Jesus Cristo. A Igreja, pois, não é um fim em si mesmo, antes uma realidade que nos projeta desde já, numa outra realidade maior e que é o Reino de Deus inaugurado e proclamado por Jesus Cristo.

A consciência desta identidade e característica da «Igreja de Deus» enquanto povo eleito e santo, povo que pertence a Deus, e que caminha na História da Salvação ajuda-nos a perceber que nós não somos proprietários da Igreja, mas tão só mordomos escolhidos pelo próprio Deus para o servir em santidade e amor num determinado tempo e contexto. Esta escolha, este chamamento que Deus faz a cada um e à Sua Igreja, em cada tempo e em cada lugar, requer gratidão, reconhecimento e responsabilidade no tratar os assuntos da Igreja que nos são confiados. A razão, pois, de estarmos hoje aqui reunidos em Sínodo, é a de podermos servir a Deus servindo a Sua Igreja e a de podermos servi-Lo servindo a Sua Igreja sem nunca perder o horizonte de eternidade que se nos oferece e a tradição eclesial e histórica que herdamos e nos foi confiada.

Mas também e como muito bem refere o tema Sinodal, a Igreja só se compreende na sua relação com o Mundo em que está e no serviço que é capaz de oferecer aos homens e mulheres de cada tempo e lugar, ou seja, «A Igreja de Deus para o Mundo de Deus».

Por uma feliz coincidência, iniciamos o nosso Sínodo precisamente no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o 10 de junho. A Igreja não deve e não pode esquecer esta celebração nacional e em conjunto com as autoridades constituídas e a sociedade civil, celebramos também a riqueza de um país multisecular com uma História rica e longa, celebramos o dom dos poetas e dos artistas personificados em Luis de Camões e por fim abrimo-nos às Comunidades Portuguesas espalhadas por todo o mundo e expressão viva e plena de um pais e de um povo que se prolonga e percebe também nas comunidades em diáspora e em relação com outros povos e culturas.

A Igreja que somos está hoje marcada pela presença no nosso pais de outros povos e culturas, que tornam a nossa sociedade mais diversificada e rica. Muitos e muitas, provindos principalmente do Brasil, Angola, Moçambique e outros países da comunidade lusófona, e ainda da Europa de Leste, têm vindo a procurar na nossa Igreja, nas nossas paróquias e missões, abrigo seguro, comunidade espiritual e família de afeto.

Eles e elas são também «pedras vivas» indispensáveis ao templo espiritual que é a Igreja. Lenta, mas progressivamente e num contexto de globalização, vamo-nos tornando uma Igreja cada vez mais multicultural, cujas comunidades devem saber acolher e incluir. Não se trata propriamente de uma oportunidade de Missão, mas antes da Missão que somos todos chamados a desenvolver no tempo presente, da Igreja que Deus nos confiou. Peço, pois, aos responsáveis das paróquias, missões e comunidades da Igreja Lusitana a sua particular atenção e disponibilidade para estes irmãos e irmãs que nos procuram e também para aqueles que pedem a nossa saída ao seu encontro.

Se outrora e como diz o Evangelho hoje proclamado era necessário ir por todo o mundo para fazer discípulos em nome de Jesus, hoje, e fruto da globalização e da mobilidade da sociedade moderna, o mundo na sua diversidade, riqueza e complexidade veem até nós, oferecendo-nos a possibilidade de fazer novos discípulos de Jesus Cristo. Realizamos o 99.º Sínodo Diocesano num contexto social e político marcado por fatores que muitos analistas referem provocar a denominada «Tempestade perfeita». Esses fatores são a pandemia global do Covid 19, as guerras e em particular a da Ucrânia, a crise energética e a dos cereais e os problemas ambientais e do clima. Toda esta conjuntura nos afeta e condiciona a diversos níveis, desde o nível anímico, de saúde, económico, e da própria confiança nas nossas realizações presentes e no futuro que nos espera. Trazemos, pois, esta realidade sofrida do mundo em que vivemos para este Sínodo. Tenhamos consciência que esta exigente conjuntura afeta a Igreja e naturalmente o seu povo, mas não a pode condicionar na sua ação e na sua Missão. A Missão da Igreja a Missão a que somos chamados é a de continuar a mostrar ao mundo o amor de Deus e particularmente nos tempos que correm promover a reconciliação da humanidade com Deus, com a natureza, de cada um consigo próprio e com os outros. Urge a reconciliação num mundo em conflito!

Neste contexto de exigência, somos todos sem exceção chamados a tratar da vida e dos assuntos da Igreja com maior responsabilidade e dedicação. Deus pede-nos, pois, um compromisso redobrado e um amor incondicional á Sua Igreja. Deus pede-nos que sejamos «pedras vivas» sustentados no fundamento da Igreja que é Jesus Cristo.

Termino com as palavras do profeta Isaías hoje já escutadas:
«Ouve Israel, meu servo, povo de Jacob, meu escolhido… foi a ti que escolhi e nunca te rejeitarei, não tenhas medo, porque estou contigo! Eu, torno-te forte, ajudo-te, protejo-te com a minha mão direita vitoriosa».
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

+ Jorge, bispo diocesano
Catedral de S. Paulo, Lisboa,10 de junho de 2022, dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesa

 
 

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