Tempo do Advento de 2021
A expectativa do acolhimento
A expectativa do acolhimento
Da cultura da expectativa para a vivência do acolhimento sereno
Vivemos um tempo e uma cultura marcada por sucessivas expectativas; a expectativa da realização de um evento fortemente publicitado, a expectativa de uma solução para os males que nos afligem, a expectativa de um dia de chuva que já está preanunciado pelo boletim meteorológico e a expectativa de ganharmos dinheiro na raspadinha e no imenso casino em que se transformou o nosso país.
De expectativa em expectativa vamos vivendo num sucessivo adiamento do presente e das oportunidades que se nos oferecem. Tudo é relegado para a frente e vivido na voragem de um tempo rápido que não nos permite saborear cada momento a seu tempo. A cultura da expectativa cumpre-se com a realização do acontecimento ao qual naturalmente já terá que suceder um outro que alimente por si mesmo a nossa sede de expectativa. Tornamo-nos mais executores ansiosos do que propriamente usufruidores com paixão. Interessa mais a realização e o cumprimento de um calendário do que a vivência serena de cada momento e evento que se nos oferece. Tudo se centra em nós e na nossa maior ou menor capacidade de realização. É a cultura capitalista que valoriza apenas a produção e o consumo no alimentar de um ciclo de dependência e sempre de grande expectativa pelo novo produto ou evento que nos querem vender e propor.
Assim sucede também, consciente ou inconscientemente, com a própria vivência e celebração que o calendário litúrgico nos oferece nas suas diversas quadras e tempos. Transferimos para o tempo litúrgico as influências de um tempo dessacralizado. O Advento é vivido na expectativa do cumprimento do Natal e a Quaresma na expectativa do cumprimento da Páscoa. Passada a noite de consoada e o dia de Natal em família, a pergunta que se encontra na boca de muitos é a de saber «se o Natal correu bem?», como que afirmando que o Natal já passou e importa agora «partir para outra».
Esquece o pensar próprio do nosso Tempo (ou antes ignora, ou se quer se importa), que liturgicamente não há um Advento, mas sim um Tempo de Advento, tal como não há um Natal, mas sim um Tempo de Natal, ou um Tempo de Quaresma e um Tempo de Páscoa. Cada festividade assinalada introduz-nos num Tempo próprio que urge recuperar e assumir de forma a poder ser vivido na sua espiritualidade e mensagem própria. Assim o Natal não terminará com o cumprir da noite da consoada, mas a sua riqueza e mistério como que se abrem e revelam a partir de uma noite que é santa pelo nascimento do menino Jesus. Importa, pois, fazer o caminho do Natal até à Epifania, dando tempo a que o mistério da Encarnação se nos vá progressivamente revelando.
As realidades da fé em Jesus Cristo requerem um Tempo de preparação e um Tempo de realização e ainda um outro Tempo para usufruirmos aquilo que em nós e por nós foi realizado. Um Tempo de qualidade que não precipite nem ultrapasse fases e etapas que devem ser cumpridas. Assim é também com o nascimento de qualquer menino ou menina. À fase da gravidez biológica de 9 meses (40 semanas de gestação!) corresponde também um tempo de amadurecimento afetivo e parental necessário para o enfrentar das exigências do nascimento. Este não marca um fim, mas antes o início de um caminhar que se oferece para todo o tempo de uma vida. Ninguém se torna Mãe ou Pai sem passar primeiro por um tempo de espera paciente e sofrida que nos faz crescer em humanidade. Mas verdadeiramente o que desenvolve o nosso sentido de maternidade e de paternidade, é toda uma relação que se nos oferece com os nossos filhos ao longo de uma vida.
Na visão de S. Paulo em Gálatas (4,4), Deus só enviou o seu Filho chegada «a plenitude dos tempos». Esta plenitude dos tempos ou tempo devido encerrou um longo período de séculos de espera e de preparação da humanidade e que abriu o tempo novo de Cristo. Da criação do mundo à constituição de Israel, da libertação de um povo escravizado à aliança no Sinai, da pregação dos profetas ao apurar de uma sabedoria de vida e de uma consciência de vocação própria, tudo levou o seu tempo dado que Deus é paciente e respeitador do nosso caminhar.
Na Sua sabedoria e Amor Deus não precipita os eventos salvíficos e poderosos da história da humanidade. O Tempo do Advento que anualmente celebramos como que acentua em nós esta certeza e realidade da fé, de que a «plenitude dos tempos» está cumprida e que nos cabe agora usufruir e celebrar esta vinda constante de Jesus Ressuscitado às nossas vidas e à vida da humanidade. Verdadeiramente e à luz da fé em Cristo ressuscitado, já não somos chamados a viver na expectativa de algo que se anuncia e se vai realizar, mas antes devemos viver no acolhimento de uma realidade nova e definitiva que já se nos oferece na pessoa de Cristo Ressuscitado.
Deste modo, o Natal que se aproxima não requer de cada um expectativa ansiosa, mas antes sereno acolhimento de algo que já nos foi providenciado. Não nos pede labor, mas sim acolhimento do convite e da revelação que os anjos fizeram aos pastores nas campinas e nos fazem hoje também a nós. Tal como os pastores que «pelo caminho cantavam louvores a Deus» também nós somos chamados a cantar no Tempo de Natal a nossa alegria pelo nascimento/acolhimento de Cristo Ressuscitado na nossa vida. Esta alegria e celebração não se confina a um dia, mas prolonga-se num Tempo que agora se nos oferece.
Desejo-vos assim um Santo Tempo de Natal, na companhia dos vossos queridos e fundamentalmente na comunhão da Igreja que somos.
+ Jorge
De expectativa em expectativa vamos vivendo num sucessivo adiamento do presente e das oportunidades que se nos oferecem. Tudo é relegado para a frente e vivido na voragem de um tempo rápido que não nos permite saborear cada momento a seu tempo. A cultura da expectativa cumpre-se com a realização do acontecimento ao qual naturalmente já terá que suceder um outro que alimente por si mesmo a nossa sede de expectativa. Tornamo-nos mais executores ansiosos do que propriamente usufruidores com paixão. Interessa mais a realização e o cumprimento de um calendário do que a vivência serena de cada momento e evento que se nos oferece. Tudo se centra em nós e na nossa maior ou menor capacidade de realização. É a cultura capitalista que valoriza apenas a produção e o consumo no alimentar de um ciclo de dependência e sempre de grande expectativa pelo novo produto ou evento que nos querem vender e propor.
Assim sucede também, consciente ou inconscientemente, com a própria vivência e celebração que o calendário litúrgico nos oferece nas suas diversas quadras e tempos. Transferimos para o tempo litúrgico as influências de um tempo dessacralizado. O Advento é vivido na expectativa do cumprimento do Natal e a Quaresma na expectativa do cumprimento da Páscoa. Passada a noite de consoada e o dia de Natal em família, a pergunta que se encontra na boca de muitos é a de saber «se o Natal correu bem?», como que afirmando que o Natal já passou e importa agora «partir para outra».
Esquece o pensar próprio do nosso Tempo (ou antes ignora, ou se quer se importa), que liturgicamente não há um Advento, mas sim um Tempo de Advento, tal como não há um Natal, mas sim um Tempo de Natal, ou um Tempo de Quaresma e um Tempo de Páscoa. Cada festividade assinalada introduz-nos num Tempo próprio que urge recuperar e assumir de forma a poder ser vivido na sua espiritualidade e mensagem própria. Assim o Natal não terminará com o cumprir da noite da consoada, mas a sua riqueza e mistério como que se abrem e revelam a partir de uma noite que é santa pelo nascimento do menino Jesus. Importa, pois, fazer o caminho do Natal até à Epifania, dando tempo a que o mistério da Encarnação se nos vá progressivamente revelando.
As realidades da fé em Jesus Cristo requerem um Tempo de preparação e um Tempo de realização e ainda um outro Tempo para usufruirmos aquilo que em nós e por nós foi realizado. Um Tempo de qualidade que não precipite nem ultrapasse fases e etapas que devem ser cumpridas. Assim é também com o nascimento de qualquer menino ou menina. À fase da gravidez biológica de 9 meses (40 semanas de gestação!) corresponde também um tempo de amadurecimento afetivo e parental necessário para o enfrentar das exigências do nascimento. Este não marca um fim, mas antes o início de um caminhar que se oferece para todo o tempo de uma vida. Ninguém se torna Mãe ou Pai sem passar primeiro por um tempo de espera paciente e sofrida que nos faz crescer em humanidade. Mas verdadeiramente o que desenvolve o nosso sentido de maternidade e de paternidade, é toda uma relação que se nos oferece com os nossos filhos ao longo de uma vida.
Na visão de S. Paulo em Gálatas (4,4), Deus só enviou o seu Filho chegada «a plenitude dos tempos». Esta plenitude dos tempos ou tempo devido encerrou um longo período de séculos de espera e de preparação da humanidade e que abriu o tempo novo de Cristo. Da criação do mundo à constituição de Israel, da libertação de um povo escravizado à aliança no Sinai, da pregação dos profetas ao apurar de uma sabedoria de vida e de uma consciência de vocação própria, tudo levou o seu tempo dado que Deus é paciente e respeitador do nosso caminhar.
Na Sua sabedoria e Amor Deus não precipita os eventos salvíficos e poderosos da história da humanidade. O Tempo do Advento que anualmente celebramos como que acentua em nós esta certeza e realidade da fé, de que a «plenitude dos tempos» está cumprida e que nos cabe agora usufruir e celebrar esta vinda constante de Jesus Ressuscitado às nossas vidas e à vida da humanidade. Verdadeiramente e à luz da fé em Cristo ressuscitado, já não somos chamados a viver na expectativa de algo que se anuncia e se vai realizar, mas antes devemos viver no acolhimento de uma realidade nova e definitiva que já se nos oferece na pessoa de Cristo Ressuscitado.
Deste modo, o Natal que se aproxima não requer de cada um expectativa ansiosa, mas antes sereno acolhimento de algo que já nos foi providenciado. Não nos pede labor, mas sim acolhimento do convite e da revelação que os anjos fizeram aos pastores nas campinas e nos fazem hoje também a nós. Tal como os pastores que «pelo caminho cantavam louvores a Deus» também nós somos chamados a cantar no Tempo de Natal a nossa alegria pelo nascimento/acolhimento de Cristo Ressuscitado na nossa vida. Esta alegria e celebração não se confina a um dia, mas prolonga-se num Tempo que agora se nos oferece.
Desejo-vos assim um Santo Tempo de Natal, na companhia dos vossos queridos e fundamentalmente na comunhão da Igreja que somos.
+ Jorge
22 de dezembro 2021