13º Domingo Comum - Comentários bíblicos - Bispo D. Fernando Soares - 27/6/2021

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COMENTÁRIO BÍBLICO
13º Domingo Comum – Ano B
27jun2021

2 Samuel 6,1-15; Salmo 24; 2 Coríntios 8,7-15
 
S. Marcos 5,21-43

21Jesus atravessou de novo o lago para a outra margem. Juntou-se logo uma grande multidão à volta dele. 22Então Jairo, um dos chefes da sinagoga, aproximou-se de Jesus, ajoelhou-se a seus pés 23e suplicou-lhe: «A minha filha está a morrer. Vem e põe as mãos sobre ela para que fique curada e possa viver.» 24E Jesus foi com ele.
Ora a multidão que seguia Jesus era tão grande que o apertava de todos os lados. 25Estava ali uma mulher que já há doze anos sofria de uma doença que a fazia perder sangue. 26Tinha sofrido muito em tratamentos com vários médicos sem ter conseguido melhoras. Depois de gastar tudo quanto possuía estava cada vez pior. 27Ouviu falar de Jesus e rompeu por entre a multidão; pondo-se atrás dele tocou-lhe na roupa. 28Pensava ela: «Se eu conseguir ao menos tocar-lhe na roupa, ficarei curada.» 29Imediatamente a hemorragia parou e viu que estava curada do seu mal. 30E logo Jesus se apercebeu de que aquele poder saiu dele. Voltou-se e, ali no meio da multidão, perguntou: «Quem me tocou na roupa?» 31Os discípulos disseram-lhe: «Estás a ver como a multidão te aperta e ainda perguntas quem te tocou?» 32Ele olhou à sua volta para ver aquela que lhe tinha tocado. 33Nisto, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, começou a tremer de medo. Aproximou-se de Jesus, pôs-se de joelhos e contou-lhe toda a verdade. 34Então ele disse-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz. Estás curada do teu mal.»
35Jesus estava ainda a falar quando chegaram algumas pessoas que vinham da casa do chefe da sinagoga e disseram: «Jairo, não vale a pena incomodares o Mestre que a tua filha já morreu.» 36Mas Jesus não deu importância à notícia e disse a Jairo: «Não te assustes, basta que tenhas fé.» 37E não consentiu que mais ninguém o acompanhasse, além de Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. 38Foram então para casa do chefe da sinagoga e encontraram lá toda a gente em grande alvoroço, a lamentar e a chorar. 39Jesus entrou e dirigiu-se aos que ali estavam: «Que agitação e que gritaria é esta? A menina não está morta, está a dormir.» 40Começaram a fazer troça dele mas Jesus obrigou-os a sair dali. Tomou consigo o pai e a mãe da menina e entrou com os discípulos no quarto onde ela estava deitada. 41Pegou-lhe na mão e disse: «Talita kum», que quer dizer: «Levanta-te menina! Sou eu que te digo!» 42E a menina, que tinha doze anos, levantou-se imediatamente e começou a andar. Todos ficaram muito impressionados. 43Então Jesus ordenou-lhes que não contassem nada a ninguém e disse-lhes para darem de comer à menina.

1. Dois milagres. O primeiro, o da mulher que sofria dum fluxo sanguíneo há já vários anos. Algo que lhe causava viver depressivo e humilhante, suscetível de exclusão social, e que a colocava em estado de impureza segundo a Lei (Levítico 15, 25). Numa palavra,que a fazia sofrer muito. Aproxima-se da multidão que envolvia Jesus com a convicção de que para ficar curada não era precisa qualquer palavra, qualquer pedido, bastaria um pequeno toque na Sua túnica. Todo o cuidado era pouco e, portanto, quanto mais anónima melhor para o seu propósito. Duma coisa estava certa, Ele podia curá-la. E assim foi, tocou-lhe e ficou curada. Porém, não contou com a profunda sensibilidade de Jesus, «Quem me tocou?». Que pergunta estranha para os discípulos, com toda aquela gente a apertá-Lo. Jesus olha em redor a procurar quem dEle tinha recebido a bênção da saúde. Então, a mulher sente-se descoberta e, tremente de medo, ajoelha-se em posição suplicante a contar a sua história, esperando, porventura, uma reprimenda. Mas, em vez desta ouve as palavras mais doces da sua vida «Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz. Estás curada do teu mal».
Uma nota para refletir. Tanta daquela gente a tocar Jesus e só o ‘toque’ da mulher recebeu a cura. Na verdade, o seu ato foi a expressão de algo bem profundo que trazia no seu coração, era o lado visível de um sentimento de confiança firme na capacidade curativa de Jesus. A doente assumiu a sua fragilidade e com verdadeira humildade determina-se a procurar Jesus. Um itinerário de fé. E Jesus resume a circunstância: «a tua fé te salvou».

2. O outro milagre é a ressurreição duma menina defunta. A da filha de Jairo, o Presidente da Sinagoga de Cafarnaum. Jesus viu naquele homem a angústia e o sofrimento pela sua filha que estava muito doente. E deixa a multidão para satisfazer o pedido de um homem necessitado. Aí vai Ele, com Pedro, Tiago e João, sujeito às “bocas” e às “risadas” da multidão que O seguia, determinado em chegar à casa de Jairo. «A menina não está morta, está a dormir». Para Deus nunca morremos, apenas dormimos embalados na ambiência pacificadora da Sua presença. À ordem de Jesus «Levanta-te menina! Sou eu que te digo!», amenina levantou-se e começou a andar.   

3. Dois milagres, dois apontamentos. O sinal da bondade humana de Jesus para com a necessidade, o sofrimento e o mal que destrói as pessoas. Tanto no caso da mulher como no de Jairo, Jesus fez o que o amor de Deus faz como Pai pelos seus filhos, ouviu-os e transformou as suas infelicidades em tempos de alegria. Este é o grande propósito de Jesus: achegar-se aos pobres e sofredores, quem quer que sejam, para lhes possibilitar a libertação dos seus males: «Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos darei descanso» (S. Mateus 11, 28). O outro, é o da importância da fé na nossa vida. Como Jesus diz: «se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: passa-te daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível.» (S. Mateus 17,20). Ou seja, a confiança que a fé nos faz depositar em Deus em momentos de grande sobressalto é pacificadora, dá sentido ao nosso sofrimento e, por isso, pode evitar doenças, pode ajudar/acalmar doentes em situações de extrema dificuldade, pode até curar determinadas patologias. A questão é ter fé, como a mulher e Jairo.  
Esta semana soubemos que o bem conhecido cantor Tony Carreira foi acometido de um enfarte do miocárdio. Nas conversas sobre o assunto depressa se assumiu que aquela situação se deve ao muito que está a sofrer pela morte de sua filha, Sara Carreira, ocorrida em Dezembro passado num brutal desastre de automóvel. Há pouco tempo, numa entrevista, o cantor confessou-se profundamente abalado e declarou ter morrido “por dentro” após o que sucedeu à filha. É possível, pois, inferir do seu sofrimento a causa deste episódio, tanto mais que a ciência tem afirmado que o estado anímico de cada pessoa pode ser efetivamente atacado por situações de sofrimento atroz ou de depressão profunda que sentem, levando ao aparecimento de outras doenças. Isto é, o nosso corpo pode ser afetado por causas do foro psicológico bem mais facilmente do que se pensa. Mas, então, porque é tão difícil aceitar que, por sua vez, a fé possa também ser um antídoto para situações de sofrimento?

+ Fernando
Bispo Emérito da Igreja Lusitana  

 

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