Mensagem de Natal 2013 - Bispo D. Jorge Pina Cabral


 


«Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens a quem Ele quer bem!»
S . Lucas 2,14

O presépio e a Cruz, do acolhimento para a entrega.
 
 
Os  vitrais  são  belos  e  interpelam  quem  os  contempla.  Um  refere-se  à natividade de Jesus e o outro à sua Crucificação. Quem os observa no seu posicionamento na Igreja Lusitana de S. João Evangelista, confronta-se com um aparente  paradoxo;  o  nascimento  encontra-se  ao  lado  da  morte  e  desse  modo  a alegria é confrontada com a dor e a tristeza. A visão conjunta dos vitrais remete-nos para as palavras do prólogo de S. João; «Ele veio para o seu próprio povo e o seu povo não o recebeu» (S. João 1,11). Natal e Paixão. Nascimento e morte. Um dom que acaba em rejeição e uma oferta de vida que parece terminar na morte. A aparente contradição existente começa a dar lugar a um novo olhar e entendimento quando nos deixamos interpelar pelo sentido mais profundo que o quadro vivo dos vitrais nos oferece. Maria ajuda-nos a esse entendimento. Em ambos, está presente e vigilante. No ambiente recolhedor do presépio observa atenta as necessidades do menino e junto à cruz manifesta a sua presença e compaixão para com o seu filho crucificado. Maria presente no início e no fim, capaz de acolher o dom mas também de seguir as suas exigências. Uma relação de vida marcada pela disponibilidade para acolher o inesperado, pela confiança nas palavras do anjo para não ter medo e por uma atitude de interiorização que sedimentava a sua opção de vida (S. Lucas 2,19).
 
O doce Natal que celebramos contem em si mesmo uma dádiva que não controlamos mas da qual nos cabe usufruir. O menino vem não para que o embalemos mas para que nos deixemos embalar pela sua proposta de vida e de libertação. A verdade que celebramos no Natal, essa presença alegre e confortante que sentimos no coração, é também a verdade mais exigente e por vezes desorientante que conhecemos. A Palavra que criou e que estava no princípio com Deus (S. João 1,1) é a mesma Palavra que continua a criar e a recriar e por vezes (quase sempre!) a baralhar os nossos pretensos caminhos de felicidade e de segurança. Jesus Cristo, o rosto da Palavra, sabe bem o que necessitamos para nos libertarmos do pecado, de tudo aquilo que nos impede de amar a Deus e ao próximo. Por isso em cada Natal, Ele renova o seu convite para o recebermos e crendo nele nos tornarmos filhos de Deus (João 1,12). 

Neste Natal de 2013 somos chamados de um modo particular a saber olhar para a complementaridade do presépio e da cruz, do dom que se torna presente e que é  depois derramado  por  amor.  O Presépio  e a Cruz  são  assim expressões  de um mesmo  amor  incondicional  que  manifesta  o  seu  imenso  poder  na  fragilidade  do menino e na entrega do crucificado e que devem constituir para cada um de nós marcos de um mesmo caminho a percorrer para que o Mundo creia. Tal como Maria devemos crescer para o acolhimento de Deus e para a entrega de nós próprios ao seu serviço. Acolher os débeis e estar com os crucificados e neles e por eles acolher e estar com Jesus Cristo. Acolher as crianças abusadas, as mulheres vítimas de violência doméstica e os pobres que lutam diariamente pela sua sobrevivência. Confrontarmo- nos desse modo com a Verdade que liberta e com o amor que vence os nossos receios interiores e nos leva a um progressivo despojamento de nós próprios.
 
É este caminho de santidade que o Natal desde já nos oferece e para o qual o
 
Advento nos preparou.
 
A todos desejo um Santo e Feliz Natal.
 
+ Jorge Pina Cabral
Bispo da Igreja Lusitana

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