Mensagem de Natal 2018

A Verdade e as fake news

O sentido do nascimento de Jesus é-nos contado por ele próprio quando no diálogo com Pilatos e que antecedeu a sua condenação à morte, afirmou: «nasci e vim ao mundo para dizer o que é a verdade» (S. João 18, 37). É uma pequena mas significativa declaração que no contexto do drama da Sua paixão nos passa por vezes despercebida. Para perceber e viver o Natal de Jesus na sua essência mais profunda importa perceber e viver a Verdade que Jesus nos oferece. Na linguagem e compreensão humana a verdade refere-se a tudo aquilo que é evidente à nossa razão e intelecto. Tudo o que está de acordo com os acontecimentos e a realidade vivida e é por nós comprovado, torna-se a verdade dos factos. Mas em Jesus Cristo, filho de Deus, Palavra encarnada, a Verdade no seu sentido mais profundo vai para além de uma concepção meramente intelectual ou racional. Ele próprio se apresenta como «o caminho, a verdade e a vida» (S. João 14,6). A sua pessoa é a Verdade tal como a sua mensagem e nesse sentido Jesus afirma: «todos os que vivem da verdade ouvem aquilo que eu digo» (Efésios 4,21). Ou seja, o Verbo feito carne (Jesus), traz em si mesmo a plenitude da revelação, fazendo-nos conhecer o Pai. Acolher Jesus é acolher o próprio Deus e ouvir Jesus é ouvir o próprio Deus.

É neste sentido que Jesus se apresenta como o Caminho a ser seguido (Jo 14,6), um Caminho de relação pessoal e existencial que nos permite desde já viver a essência mais profunda da vida e da Verdade, e do sentido que a própria vida contém. Dois mil anos depois do nascimento de Jesus, os cristãos são chamados a viver a sua relação com Cristo-Verdade sustentados no Espírito de Verdade (S. João 14,16) que nos ajuda a viver e a compreender o testemunho de vida de Jesus Cristo, desde o seu nascimento até à sua própria morte e ressurreição. A vivência desta relação com a Verdade traz naturais implicações éticas ao testemunho cristão que não se coadunam com a falsidade, a mentira e a desinformação. O advento da era digital mudou a forma de comunicação entre as pessoas e proporciona que a mentira e as «fake news» se espalhem mais rapidamente do que a verdade dos acontecimentos e dos factos. Através das redes sociais assistimos hoje a verdadeiras campanhas organizadas de manipulação de noticias para fins políticos nas quais a verdade deixa de ser uma prioridade. Distinguir o verdadeiro do falso e procurar informação neutra e qualificada, é a exigência que se coloca a cada crente e às Igrejas para uma vivência plena do sentido da verdade e da liberdade em Jesus Cristo.

Neste Natal a nossa fidelidade e compromisso com o menino Jesus nascido em Belém e com a sua vida de amor, verdade e sacrifício, requer a liberdade de fazermos o que a nossa consciência dita por muito exigente que tal se nos oferece. Não pactuar com uma cultura de mentira e de desinformação é também hoje uma forma de afirmar a nossa fé em Deus e o nosso compromisso na construção de uma sociedade justa, fraterna e livre.

A todos desejo um Santo Natal na (re)descoberta da Verdade que o menino de Belém nos quer revelar uma vez mais.

Em Cristo

+ Jorge, bispo

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Liturgia para Celebração do Natal em Família

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