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Tempo do Advento de 2021
Chamados à Alegria
 
O terceiro domingo do Advento introduziu o tema da Alegria no nosso caminhar para o Natal. Que Alegria! Que grande Alegria! Nas leituras feitas no passado domingo, esta acentuação é sublinhada pelo Profeta Sofonias, quando se dirigindo aos simples e humildes de Jerusalém, àqueles que se tinham mantido fieis a Deus e não se tinham deixado corromper, exclama em tom esperançoso: «Enche-te de alegria, cidade de Sião! Grita de júbilo, povo de Israel! Rejubila e exulta com todo o coração, cidade de Jerusalém! … O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti, já não deves ter medo de nada» (Sof. 3,14). No mesmo registo de exortação S. Paulo recomenda aos Filipenses: «Tenham sempre alegria no Senhor. Repito, tenham alegria … e a paz de Deus guardará os vossos corações» (Fil. 4,4). E no Cântico de Zacarias (O Benedictus) lido em alternância ao Salmo, o pai do recém-nascido João, cheio do Espírito Santo, profetiza com alegria louvando o Deus de Israel porque veio socorrer e salvar o seu povo e louvando também pela missão e ministério que seu filho João irá desenvolver preparando o caminho e a vinda do Senhor. É sem dúvida um cântico de alegria e de esperança que brota de um coração de fé agradecido.

O sentido da Alegria que percorre as páginas da Bíblia, quer no Antigo quer no Novo Testamento, nasce, da consciência e aceitação, da presença de um Deus que se manifesta, quer na vivência e caminhar de um povo, Israel, quer na vivência e caminhar de homens e mulheres concretos, com as suas histórias de vida, carregadas com dificuldades e esperanças, frustrações e realizações, como era o caso do casal Ana e Zacarias. A Alegria bíblica não é imposta, mas brota antes do reconhecimento de um Amor que se manifesta enquanto dom para a nossa realização pessoal e coletiva. Tem sido assim ao longo da história da salvação e assim continuará a ser no caminhar da humanidade que somos.

O usufruto desta vivência da Alegria, que é mais, muito mais do que um mero sentimento de euforia passageira, requer a sensibilidade de um olhar e de um coração, capazes de perceber nos acontecimentos concretos da vida, a manifestação sempre graciosa de Deus. É esta a luz que o salmista mesmo passando por dificuldades é capaz de cantar e orar a Deus dizendo: «O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda. O meu coração exulta de Alegria, e com o meu cântico lhe darei graças. (Salmo 28,7)

Esta Alegria não se pode conter e exprime-se de diversos modos e formas. É como que a origem interior das nossas realizações mais belas e criativas, da nossa arte, do nosso cantar, da nossa poesia e das nossas criações. É uma Alegria que contagia o nosso falar, o nosso cantar, o nosso pensar e a nossa relação com os outros e com a natureza e a Criação de Deus. É deste modo uma Alegria contagiante e capaz de testemunhar uma vida grata a Deus. Sem dúvida a melhor forma de testemunharmos a nossa fé.

É deste sentido outro de que nos fala e predispõe desde já o Tempo do Advento na sua função também de nos preparar para o encontro e acolhimento do menino Jesus, que através da sua vida, paixão, morte e ressurreição é a fonte perene da nossa Alegria. S. Paulo refere e bem «Tenham sempre alegria no Senhor». Alegria em Deus encarnado e que alcançou para nós a Ressurreição e a vida terna. «Alegria no Senhor».

Neste exigente tempo de Advento que estamos a viver e que está marcado pelo contexto da pandemia, um coração Alegre e grato é como que uma luz capaz de alumiar as tristezas do tempo presente. Importa, pois, assumir a Alegria como que uma realidade indispensável ao nosso testemunho de fé. Um cristão triste é um triste cristão.

Esta subtil, mas efetiva mudança de orientação no caminhar do Advento, traz o «Advento da Alegria» para o nosso meio. Como que nos deve predispor desde já para uma preparação cuidada e Alegre do Natal que se aproxima. Somos, pois, «Chamados à Alegria» nas orações a serem elevadas a Deus, nos hinos e cânticos de louvor, nas leituras a serem proclamadas, no embelezar das nossas casas e Igrejas, no falar do menino Jesus aos outros e em muito mais que expressa e realiza o Natal. No nosso orar e agir, em tudo deve estar presente a Alegria que levou Sofonias, Zacarias e Paulo a testemunharem a Deus com gratidão.
Que assim seja!

+ Jorge
15 dezembro 2021

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