O mal está feito, e não há uma única pessoa
no mundo que não seja sua vítima

Arcebispo Anglicano Hanna Anis
Província de Jerusalém e Médio Oriente
16 de Novembro 2015

Uma vez mais, o mundo ficou chocado por atos de inexplicável violência e brutalidade. Uma vez mais, o mundo lamenta-se com as famílias e amigos das vítimas da tragédia. Uma vez mais, o mundo busca sentido e esperança perante os terríveis destroços deixados na esteira de um ódio desumano, do derramamento de sangue sem sentido, e da perda sem paralelo.

Neste tempo de aflição, é muito fácil ver o caminho que o mundo traçou para nós. É o caminho da justiça retributiva, do ódio reciproco, do medo e da raiva. É deste modo que o mundo se move; o modo como governos, militares, e sistemas judiciais funcionam. Mas é neste tempo critico que temos que perguntar a nós próprios qual deve ser o nosso papel no rescaldo desta tragédia.

O melhor que possivelmente poderemos fazer é olhar para a resposta mais duradoura que existe para a violência e a morte. A morte por crucificação de Jesus Cristo, há dois mil anos atrás. Poderes injustos, motivados pela raiva e o medo, assassinaram a própria encarnação de Deus. O que resultou deste grande complot? Deus tornou-o no maior triunfo sobre o mal a que a Criação jamais assistiu. E quanto àquele que assumiu ser vitima no nosso lugar? «Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» – Lucas 23,34

Na hora da grande escuridão, Jesus suplicou ao Pai por perdão. Vemos esta mensagem nos seus ensinos, e depois a ecoar na sua vida e na sua morte. Profundo perdão. Profunda misericórdia. Profunda graça.

Em 2006, um homem armado entrou numa escola da comunidade Amish na Pensilvânia nos Estados Unidos. Disparou sobre 10 raparigas entre os seis e os treze anos de idade, cinco das quais morreram, e depois cometeu suicídio. A resposta desta comunidade foi rápida. Poucas horas depois do tiroteio, um vizinho Amish visitou a família do atirador e ofereceu conforto e perdão. Perante o corpo da sua neta assassinada, um avô disse a diversos rapazes: «Não devemos pensar mal deste homem». Cerca de 30 membros da comunidade Amish participaram no funeral do assaltante, e um dos poucos visitantes de fora desta comunidade a participar no funeral das raparigas foi a viúva do atirador.
Por vezes questiono-me sobre a capacidade da humanidade para tal perdão, mas depois compreendo que estou apenas a questionar-me sobre a graça de Deus. Olho para trás para as primeiras palavras da Bíblia e vejo que em Génesis 1:27 fomos «criados à imagem e semelhança de Deus» e que no versículo 31, Deus viu que «tudo o que tinha sido criado era muito bom». 

E, mesmo que muito tenha acontecido desde que Deus colocou estas poderosas intenções em ação, eu sustento-me nas palavras de Deus na segunda carta aos Coríntios 12:9 : «Basta que tenhas a minha ajuda. Pois a minha força manifesta-se melhor nas fraquezas dos homens». E em Filipenses 4,13 : «Posso enfrentar todas as dificuldades naquele que me dá coragem».

Talvez seja nas horas mais escuras que a luz brilha mais brilhante, e que a visão do Reino se torna mais clara, não importa o quão distante possa estar. O caminho para esse Reino nunca está totalmente claro, mas a visão está lá. É uma visão de todas as nações a caminharem para a frente, todas as divisões a serem postas de lado, todos os conflitos passarem, e judeus e gentios juntos.

Por isso hoje, eu lamento todas as vítimas desta impensável violência. Lamento pelas suas famílias. E a sua família é este mundo. Cada pessoa é seu vizinho. Cada pessoa é uma vítima desta tragédia. A violência é realmente um mal que prejudica a vítima e o atacante.

Oro pelos cidadãos de Paris, pela França, pela Europa, por cada país do mundo, que baixa a sua cabeça forçado pelo peso da morte e da violência sem sentido que continua a visitar irmão atrás de irmão, irmã atrás de irmã. Oro pela cura, pelo perdão, e pela esperança no coração das famílias atingidas. O mal foi feito, e não há uma só pessoa no mundo que não seja vítima dele.

E oro para que através deles todos, a bondade de Deus continue a brilhar. A bondade que esteve lá no momento da criação, que foi criada de novo no sacrifício de Jesus Cristo, e que continua a ser criada à medida que o Reino dos Céus continua a lutar na escuridão dos tempos e lugares.
Oro por perdão. Oro pela graça. Oro pela paz.

(traduzido e adaptado a 17 de Novembro do Serviço Anglican News pelo Departamento de Comunicação da Igreja Lusitana)

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